O que é ritmo?

Escrevo esta reflexão ao som do álbum “A Love Supreme by John Coltrane”. O álbum se inicia com um forte gongo que em minha mente soa como um “big-bang” em câmera lenta que despretensiosamente cria um universo. O ritmo que eu escuto é o jazz, e é exatamente como na definição do dicionário.

Conceito do dicionário: “Subs. masc. Sucessão de tempos fortes e fracos que se apresentam alternada e regularmente. Movimento que ocorre em períodos regulares. ritmo cardíaco.”

Mas o que faz o ritmo ser diferente de um “pattern/padrão” que se repete ao longo do tempo?

Pensei sobre isso porque ingressei no doutorado para estudar o ritmo circadiano das plantas e me perguntei, mas por que chamar de ritmo? Este fenômeno não poderia ser apenas algum outro tipo de “padrão”, como muitos outros que a ciência estuda?

E eu entendi que o ritmo é um tipo de padrão. O padrão é como um modelo. Por exemplo, o padrão de afinação da corda “Lá” do violão é 440Hz. O modelo/padrão da frequência de 440 Hz pode ser representado como uma senoíde perfeita, com picos que se repetem exatamente ao longo do tempo, tempos fortes e fracos que se alternam. Mas então, o que o tornaria o ritmo diferente de um padrão?

Ao escutar o jazz de Coltrane eu entendi. A diferença é que o ritmo não é “perfeito”. Assim como o número π não é 3 e o ritmo cardíaco (exemplo do dicionário) não é exato. Existe um “groove” implícito que faz toda a diferença.

Dizer que o ritmo se “repete” talvez seja um grande erro, o próprio dicionário o define como “um movimento que ocorre em períodos regulares”, regularidade essa que me parece levemente previsível, mas não absoluta.

Talvez seja mais como uma sequência de eventos que acompanha uma tendência ao longo do tempo, em um fluxo dinâmico contínuo, dependente de infinitos fatores.

O tambor da bateria produz um som único a cada batida da baqueta. A resistência da pele e a vibração emitida muda cada vez que é golpeada pela madeira.

Se a pele do tambor tem uma “vida útil” de “X” batidas, a cada batida, “X” se aproxima de 0. Assim como um violão com cordas novas que produz um som bem diferente com cordas velhas.

Concluo que há uma série de nuances envolvidas na manifestação rítmica e eu penso que não é algo simples de se entender ou explicar. Talvez o melhor a fazer seja dançar e descobrir.


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